Hernan Brienza, Diário Tiempo, de Buenos Aires
Depois de um mês de governo, Macri registrou um recorde difícil de
superar em democracia: tem o mais alto índice de medidas antipopulares
dos últimos 30 anos: desvalorizou o peso para favorecer os exportadores,
gerou mais inflação, desvalorizou os salários dos trabalhadores em pelo
menos 40%, despediu empregados públicos, iniciou um processo de
endividamento que, como sempre, levará os contribuintes argentinos a
pagar milhões e milhões no futuro, abandonou os inundados do litoral
fazendo o Estado desaparecer (por sorte foram salvos pela solidariedade
civil), reprimiu os protestos sociais com uma brutalidade que não era
vista desde a ditadura militar, deixando trabalhadores feridos com balas
de borracha, porque eles simplesmente reclamavam por seus postos de
trabalho. Mais que isso, ele também quebrou a institucionalidade,
burlando o Congresso, nomeando dois juízes da Corte Suprema a dedo (e
com o dedo de Héctor Magnetto, o dono do Grupo Clarín), violou a Lei de
Meios ao seu bel prazer, interveio na AFSCA como se fosse um golpe
militar, mudou a matriz arrecadatória beneficiando os exportadores e
prejudicando as classes baixa e média, taxando mais os serviços
públicos, pondo em sério perigo o déficit fiscal.
Para que tudo
isso? Por que toda essa loucura é necessária? Porque nem é somente
maldade, é brutalidade. Por que um presidente se transformar num “bruto”
(feio, mau, trapalhão, ignorante, no sentido italiano do termo)? Carlos
Menem foi responsável pela pior transferência de renda da história
argentina, dos setores populares aos grandes grupos econômicos
concentrados, durante os Anos 90, mas não o fez de forma tão brutal como
a que está usando Macri e seus colaboradores. A diferença, claro, está
na diferença de estatura política entre Menem e Macri. O velho caudilho
de La Rioja impôs seu projeto político, econômico e social – nefasto
para os setores populares e para o Estado – através da mediação da
política, buscando consensos, com operações culturais claras, gerando
alianças, inclusive comprando vontades. Macri não, ele acredita que pode
voltar aos Anos 90 na base das chicotadas.
Dois elementos que
diferenciam aquele 1989 (da posse de Menem) deste 2015: a) Nos Anos 80, o
país viveu uma crise hiperinflacionária disciplinadora e o
autoritarismo da ditadura ainda estava na memória, na atualidade, por
mais que os porta-vozes do macrismo tentem inventar uma “herança
maldita”, a verdade é que os problemas econômicos eram relativamente
solucionáveis, bastava acomodar algumas variáveis, e os argentinos hoje
aceitam mais as relações democráticas. b) a crise de 2001, já não decide
votos, mas ainda está presente na memória da maioria dos argentinos, e o
surgimento do kirchnerismo como fenômeno político, em resposta ao
cansaço popular com o neoliberalismo noventista gerou uma corrente de
consenso muito forte na sociedade, que ainda hoje se mantém viva.
Este
segundo ponto é interessante, porque está justamente no centro do plano
macrista: a desaparição do kirchnerismo. A vice-presidenta Gabriela
Michetti, “militante do PRO”, acabou confessando isso, quando sugeriu
que não estavam demitindo empregados públicos no Senado, e sim a
“militantes kirchneristas”, ou quando o inefável “militante radical”,
Oscar “milico” Aguad, derrubou Martín Sabbatella da AFSCA (Autoridade
Federal de Serviços de Comunicação Audiovisuais, órgão criado para
fiscalizar o cumprimento das determinações da Lei de Meios), alegando
ser um “militante kirchnerista”. Absurdo. Nem mesmo o pseudomoderado
Hernán Lombardi escapou da perigosa estigmatização, e ficou preso à
mesma lógica autoritária, operando jornalisticamente para escrachar os
trabalhadores da Rádio Nacional por serem “kirchneristas fanáticos”. É
paradoxal que esse ex-funcionário da prefeitura de Buenos Aires (durante
o governo de Macri), acusado de subsidiar rádios FM inexistentes e
jornalistas famosos como Fernando Niembro (espécie de Galvão Bueno
argentino) com milhões de pesos, seja o operador da caça às bruxas,
mostrando relatórios com informação falsa, aumentando as cifras omitindo
o fato de que os números que ele revela incluem 13º salário, férias e
outros benefícios, e que os salários reais são quase a metade do que ele
divulga. Nesse caso, Lombardi não só estigmatiza os funcionários mas
também engana a população. Mas voltemos ao que é importante, porque que
se a única acusação que podem fazer a uma pessoa é que ela recebe um
salário muito alto, isso mostra que não existem elementos contra esses
trabalhadores, e não se pode confrontar ideias com isso. É triste que um
funcionário público esteja sujeito a isso.
O importante é que Macri e o seu partido, o PRO, longe de pacificar e
reconciliar os argentinos, aprofundou essa lógica pré-democrática do
“amigos perto, inimigos longe”. Sua resposta não visou o diálogo, foi
mais uma tentativa de eliminar diretamente um dos seus concorrentes. Não
foi encontrar sínteses superadoras, e sim buscar a paz matando o
oponente. Infelizmente, esse tipo de violência tem um alto preço.
Quantas vezes Macri poderá reprimir sem que isso termine em
enfrentamentos sérios entre as forças de segurança e os trabalhadores?
Qual será o próximo passo: os reforços policiais da época do corralito?
Prender os que protestam? Ou será que o macrismo simplesmente não quer a
paz social, e sim a domesticação dos setores populares, que os
trabalhadores e as classes médias se submetam aos benefícios dos setores
econômicos mais altos?
Geralmente, os novos governos têm cem
dias iniciais de graça, em que a população está menos exigente. Com um
peronismo kirchnerista fatigado depois de 12 anos de gestão, com um
peronismo territorial que ainda está tentando entender a derrota, e com
um movimento operário desorganizado e na expectativa, além de contar com
todos os meios de comunicação a favor, Macri aproveitou seu mês de
impunidade absoluta. Mas talvez tenha jogado essa paz inicial no lixo.
Seus primeiros trinta dias de governo produziram irritação na população,
o que só não se vê nas pesquisas manipuladas do Clarín. O eleitorado
considerado “independente”, que votou sem muitas convicções, mais pelo
cansaço com o governo anterior que por certeza sobre a proposta do novo
presidente, está confuso.
O que Macri conseguiu a seu favor foi
produzir uma grande fidelização dos setores “fanaticamente”
antiperonistas. Não parece ser um grande negócio político. Uma pena,
porque infelizmente, nesses poucos dias, a elite econômica e social
argentina demonstrou que é incapaz de abandonar seu rol de “classe
dominante” (repressão e enriquecimento oligárquico) e que não tem
capacidade de se transformar em “classe dirigente” (condução, integração
e consenso). Aí está o mal de todos os males para milhões de
argentinos.
Tradução: Victor Farinelli
fonte:http://cartamaior.com.br/?/Editoria/Internacional/Macri-primeiro-mes-de-governo-marcado-por-repressao-e-demissoes/6/35302
miércoles, 13 de enero de 2016
Suscribirse a:
Enviar comentarios (Atom)
Archivo del blog
-
►
2010
(5004)
- ► septiembre (413)
-
►
2011
(7772)
- ► septiembre (667)
-
►
2012
(5761)
- ► septiembre (394)
-
►
2013
(2918)
- ► septiembre (343)
-
►
2014
(1553)
- ► septiembre (43)
-
►
2015
(1391)
- ► septiembre (74)
-
▼
2016
(2071)
-
▼
enero
(340)
- Ecologìa: EL 2015 FUE, POR LEJOS, EL AñO MAS CALUR...
- Documentales: La Tierra 2015
- Documentales: Tras las huellas del clima ...
- Mèxico-Quinata Roo: Tajamar....¿ecocidio tolerado?...
- Chile: "Alerta verde" .....Juan Pablo Sanhueza
- Venezuela: La Asamblea Nacional de Venezuela recha...
- Chile: El agua como bien común ....El secretario g...
- Sociedad: Una izquierda para el siglo XXI ...Raúl ...
- Argentina-Salud: Los consejos para el dengue y el ...
- Chile: “Represa Cuervo es ilegal y lo demostraremo...
- Venezuela: Una multitud chavista acompañó el entie...
- Argentina: Macri envuelto en polémica
- Guatemala - Rigoberto Juárez: “Señor Juez, no veng...
- Ecuador: "Le negaron justicia a Julian Assange"......
- Chile: La crisis son puntuales...Por Luis Casado ...
- El Imperio: Washington admite matanza de civiles p...
- Economìa-Sociedad: La Crisis Sistémica...Panorama ...
- Chile: La colusión invisible...35 años de AFPs y F...
- Venezuela: Mayoría parlamentaria de derecha rechaz...
- Brasil: Barragem da Samarco tinha infiltrações e v...
- Bolivia: Evo Morales, una década de dignidad...VTV
- Guatemala: La tremenda pobreza de los hospitales d...
- Video: ¿Los bancos privados producen dinero de la ...
- Mundo-Indignado: Cobalto, explotación infantil y ...
- Argentina: Macri y los Borbones ...Guillermo Almey...
- Chile: Profesionales de los servicios de salud pid...
- Indignado : ¿QUÉ ES EL TPP?
- Argentina: La derecha y el PJ... Silenciados, disc...
- Chile: En Concepción marchan contra el TPP...Resum...
- Mèxico: "El cártel Priista" JOHN M. ACKERMAN.
- Chile: Anulación de la ley de pesca
- Argentina: EL ARRESTO DE MILAGRO SALA...Para el ju...
- Economìa: La importancia de la letra pequeña ...En...
- Economìa: La gran fiesta de la especulación contin...
- Mèxico-La Dictadura: Control total. Con excepción ...
- Argentina: Libertad a Milagro Sala y unidad de ac...
- Argentina: Arde Jujuy por Milagro Sala, el debate
- Chile: A no engañarse...Bachelet descartó la Asamb...
- Brasil: Nuvens de Veneno, documentário fala sobre ...
- Mundo: Goldman Sachs baja el precio del petróleo ...
- Argentina: Macri el sicario Economico
- Brasil: Efeitos sociais da posse de terra indígena...
- Mèxico-La Dictadura: A la Suprema Corte la inconst...
- Chile: Vertedero Santa Marta obtuvo en 2011 per...
- Videos: INQUIETANTES MODELOS CIENTÍFICOS DEL CAMBI...
- Tecnologìa-Sociedad: Cómo empezar a utilizar el na...
- Tecnologìa-Freeware: Programas-Windows-Linux....CD...
- Mùsica: SELECCIÓN 2 ENERO 2016 ...BLUES SYNDICATE
- Linux: Linux todo en uno/ Linux AIO...Incluidos......
- Linux: Wordl without Linux Episodio 1 subtitulado
- Chile: EL ROBO DE LAS AFP
- Economìa: El desplome del precio del petróleo
- Mundo: TIEMBLA EL NEGOCIO DEL PETRÓLEO...¿Quieres ...
- Mundo: Las Únicas 3 Familias que Controlan el Mund...
- Ecologìa-Sociedad-Iglesia Catòlica: ¡LAUDATO SI! ...
- Cine: Agosto Negro
- Cine: Made in Argentina
- Mùsica: LONNIE BROOKS ..ESPECIAL...BLUES SYNDICATE
- Cine: Las mujeres de verdad tienen curvas
- Cine: Mi Familia
- Cine: Una Familia Numerosa.....Verla antes de que ...
- Argentina: Milagro Sala, primera prisionera políti...
- América Latina en alerta por la propagación del vi...
- Venezuela: Maduro volvió a rechazar la "injerencia...
- Mèxico: ¿Megaproyecto = megacorrupción? Claudio Lo...
- Europa, meca de inmigrantes
- Chile-Estado Policial-La Dictadura: Control de ide...
- Ecuador: “Los avances experimentados de estos 9 añ...
- Economìa: Precio de petróleo y la recesión mundial...
- Mèxico-Oaxaca: Encuentro Estatal de Comunidades y...
- Colombia: La Minería quiere acabar con el Rio Palo...
- Argentina-La Dictadura: LA REPRESION NO ES POR MI...
- Argentina: El debate por Milagro Sala presa
- Puerto Rico: Secretos viejos en la nueva crisis .....
- O Brasil no espelho de Mariana....Brasil de Fato
- Panamá: Miles marchan contra abusos de Minera Pana...
- Chile: Informe del Colegio Médico por Proyecto Alt...
- Indignado: Cómo ser un anticapitalista hoy.....Eri...
- Argentina: Cunde la repulsa contra Macri y su auto...
- Chile: "La falsa democratización de las redes soci...
- Mèxico: Los Murat y Peña quieren agandallarse el g...
- Argentina: Amnistía Internacional lanzó una Acción...
- Argentina: Protesta en la Plaza de Mayo por el arr...
- Chile: La cruel y triste historia y las consecuenc...
- Israel: ‘UE y ONU son cómplices del régimen de Isr...
- Economìa-Mundo: La ‘Cuarta Revolución Industrial’ ...
- Venezuela: ‘Si Maduro tumba ley sobre Misión Vivie...
- Mèxico: ¿El hombre nace, se entretiene (cuanto pue...
- Europa-Indignado: TTIP. El asalto de las multinaci...
- Venezuela: Paraperiodistas y otros animales....Nue...
- Documentales: Los amos del mundo
- Perù: Guerra política... Gustavo Espinoza M.
- Documentales: La estrategia de Simbad....se habla ...
- Brasil: Dirigente sem terra é morto a tiros dentro...
- Argentina: DEL TRABAJO A LA CALLE Por Diego Mart...
- Documentales: El mundo de hoy ...Voces contra la G...
- España: Tres aspectos del capitalismo actual...po...
- Documentales: Un mundo desigual ... Relata las in...
- Argentina: Macri... Durmiendo con el enemigo mient...
- Documentales: Camino de la extinción ....donde hac...
- ► septiembre (134)
-
▼
enero
(340)
-
►
2017
(1221)
- ► septiembre (46)
-
►
2018
(699)
- ► septiembre (77)
-
►
2019
(521)
- ► septiembre (3)
Datos personales
- raymond
- Malas noticias en los periòdicos, asesinatos, enfermedad, pobreza, dolor, injusticias, discriminaciòn, guerras, lo grave es que nos parece normal.
No hay comentarios:
Publicar un comentario