Brasil: Reforma tributária: foco deve ser no contribuinte...Por Amir Khair
Se ficar na discussão interminável do conflito federativo entre
governo federal, estadual e municipal e, querendo simplificar o ICMS
para atender as grandes empresas, o contribuinte continuará sendo
ignorado e a carga tributária vai continuar crescendo. É preciso avançar
na discussão da reforma tributária, mas o foco deve ser o contribuinte.
É marcante a total ausência de foco nas discussões sobre a reforma
tributária em quem paga a conta do sistema tributário: o contribuinte. É
como se ele não existisse para o governo federal, estadual, municipal e
Congresso Nacional. Só se discute o conflito federativo e a
simplificação tributária.
É necessário que a discussão sobre a
reforma tributária priorize quem paga a conta pública. Vale destacar
dois tópicos de interesse dos contribuintes: a) regressividade e; b)
vantagem da justiça fiscal.
Regressividade - Uma das
características do sistema tributário é a alta regressividade. Segundo
estudo do IPEA, em 2004 a carga tributária incidiu em 48,8% sobre a
renda mensal familiar de 2 salários mínimos (SM) e 26,3% sobre a renda
mensal familiar para acima de 30 SM. Em 2008 esses percentuais foram
respectivamente, 53,9% e 29,0%.
Assim, a carga tributária é alta
para a baixa renda e baixa para a alta renda. Isso agrava a má
distribuição de renda e reduz o consumo das classes de renda média e
baixa, indo na contramão do crescimento harmônico do País.
A
regressividade existe devido à elevada participação dos tributos
indiretos, que são os que não dependem da condição econômica do
contribuinte. Desde 1991 representaram cerca de 60% da carga tributária,
por causa do excesso de tributos sobre o consumo, onde o ICMS estadual é
responsável por metade dessa tributação.
Reduzir a tributação
sobre o consumo significa diminuir/zerar as alíquotas do ICMS, mas
também, no que ainda faltar, da COFINS e do PIS para os produtos da
cesta básica.
Não iria ocorrer perda de arrecadação, pois
aumentaria a atividade econômica e a formalização e reduziria a
sonegação e inadimplência. Além disso, cresce o poder aquisitivo da
população, que passaria a comprar mais.
Os tributos que incidem
sobre o consumo estão matematicamente ligados aos preços. Um produto
cujo preço antes dos tributos seja de R$ 100,00, se o ICMS for de 18%,
que é sua alíquota mais geral, o acréscimo devido ao ICMS, PIS e COFINS,
eleva o preço final para R$ 137,46. O ICMS é responsável por 2/3 desse
acréscimo!
Vantagem da justiça fiscal - Para o País ter
desenvolvimento sustentável, além de bons fundamentos macroeconômicos,
necessita de um mercado interno forte e em expansão. A má distribuição
de renda e regressividade tributária comprometem esses objetivos.
Compete
ao setor público a responsabilidade para solucionar esses problemas.
Isso se faz via decisões sobre a receita e a despesa pública. Na receita
ao promover a redução da regressividade tributária, com desoneração dos
tributos indiretos, como o ICMS, que majora o consumo popular e,
isenções/reduções de tributos diretos, como o IPTU para imóveis de
pequeno valor. Na despesa ao destinar maior parcela dos recursos
orçamentários para atender as necessidades básicas da população.
Essas
políticas permitem ampliar e incorporar um maior contingente de
consumidores, gerando maior consumo, produção e desenvolvimento
econômico e social. A população de média e baixa renda é contemplada
pela ação governamental ao priorizar seus interesses no orçamento e na
tributação. A população de maior renda é contemplada pelos frutos do
desenvolvimento econômico e social, quando são gerados empregos e ganhos
econômicos e financeiros. Com maior justiça fiscal, a segurança nas
cidades e no campo é melhorada, beneficiando a todos.
O horizonte
da justiça fiscal encontrará, sem dúvida, barreiras e interesses
divergentes. Além de esbarrar no conflito federativo pela disputa de
receitas, a reforma do sistema tributário deve avançar para reparar a
injustiça fiscal e permitir um maior desenvolvimento econômico e social
ao País.
Se ficar na discussão interminável do conflito
federativo entre governo federal, estadual e municipal e, querendo
simplificar o ICMS para atender as grandes empresas, o contribuinte
continuará sendo ignorado e a carga tributária vai continuar crescendo. É
preciso avançar na discussão da reforma tributária, mas o foco deve ser
o contribuinte.
via:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22486
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