lunes, 26 de agosto de 2013
Brasil: Reajuste da gasolina... a decisão estratégica. O governo armou sua própria armadilha. Com a depreciação cambial em curso, cuja magnitude é difícil de se prever, os estragos em cima da endividada Petrobras e o rombo causado pela importação crescente de gasolina vão exigir aumento muito maior do que as doses insuficientes já autorizadas. Por Amir Khair
O que marca a política econômica dos vários governos que se sucedem no País é o medo do fantasma da inflação. Em decorrência disso mantém uma política de juros, que segura o crescimento e gera desequilíbrio nas contas internas e externas.
Esperança - Quando entrou a presidenta Dilma Rousseff nasceu a esperança que poderia se iniciar uma nova política econômica desatada do medo do fantasma da inflação, levando as taxas de juros próximas dos níveis internacionais seja a básica (Selic) seja a praticada pelo sistema financeiro, melhor dizendo sistema agiota-financeiro, pois impregna no País vergonhosas taxas de juros, que deslocam parte substancial da riqueza criada para os ganhos fáceis e sem risco das instituições financeiras.
Mais do que isso, ela poderia pelo que impressionou no discurso de posse ser uma estadista com visão estratégica do País, potencializando-o para o futuro.
Decepção - Mas, aos poucos essa esperança foi-se dissipando. A primeira decepção ocorreu logo no início do governo quando diante da inflação em ascensão que ocorreu a partir de outubro de 2010 e que se estendeu até abril de 2011 autorizou o Banco Central a iniciar uma série de elevações da Selic como se isso resolvesse o problema inflacionário cuja raiz era externa.
Deixou correr os efeitos das medidas macroprudenciais que encareceram o crédito visando frear o crescimento do consumo, caindo no conto do mercado financeiro que habilmente comanda as ameaças do fantasma da inflação, pois surfa nos lucros das elevadas taxas de juros, que não conseguiria ter em nenhum outro país.
Retrocesso - Deu no que deu. A economia que vinha de um crescimento de 7,5% em 2010 caiu para 2,7% surpreendendo a própria presidenta e sua equipe econômica que agiu com atraso para só retirar a trava ao consumo das medidas macroprudenciais perto do final de 2011. Para efeito de comparação o mundo cresceu 3,9% em 2011 e os países emergentes 6,3%.
Questionado na ocasião diante do fracasso do crescimento e da inflação no teto da meta em 6,5%, o governo respondeu às críticas argumentando que isso não iria afetar o crescimento de 2012, cuja meta era de 5%, a mesma prometida de ser alcançada em 2011.
Descrédito - Isso começou a levantar a suspeita em algumas análises sobre a competência do governo em saber conduzir a economia. Em várias ocasiões tentando se defender das críticas crescentes, o governo prometia que o crescimento seria retomado em 2012.
Novo fracasso, dessa vez mais sério, ocorreu no ano passado com os frustrantes 0,9% de crescimento, a terça parte da ocorrida em 2011 e abaixo da média internacional de 2012 que foi de 3,1% e de 5,1% nos países emergentes.
Esse novo fracasso começou a desacreditar a política econômica e as novas promessas feitas para esse ano de crescimento de 5,5% na LDO, depois reduzida para 4,5% no orçamento caíram em descrédito.
Isso tudo temperado com o uso de receitas atípicas, inclusive de realização que só iria ocorrer no futuro, contrariando a Lei de Responsabilidade Fiscal. Aí o descrédito atingiu em cheio a política fiscal do governo, taxada de fazer contabilidade criativa para chegar à meta de resultado primário.
Juros - Mas ainda sobrava um fio de esperança para retomar o crescimento. Em abril de 2011 a presidenta Dilma Rousseff tomou a iniciativa de baixar as taxas de juros do sistema financeiro, argumentando corretamente que não havia justificativa técnica para serem tão elevadas e isso era uma trava ao crescimento ao inibir o consumo reduzindo o poder aquisitivo de ampla camada da população, que usa o crediário para adquirir bens e serviços.
Nesse campo o sucesso foi parcial, mas distante do necessário. Segundo a Associação Nacional dos Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) as taxas para financiamentos em doze meses passaram no caso da pessoa física do nível de 120% para 90% e da pessoa jurídica de 60% para 45%. Ainda são as mais elevadas do mundo.
E a presidenta não voltou a tocar mais nessa questão. Deve ter ficado satisfeita com a redução alcançada.
Petrobras - Mas, o que mais chama a atenção sobre os desacertos da política econômica e da falta de visão estratégica do governo é a política de preços imposta à Petrobras. Aí as coisas saíram do limite de um mínimo de racionalidade.
O ex-presidente Lula ressaltava em várias ocasiões o sucesso da Petrobras em suas descobertas em mar profundo da riqueza que o País tinha nas camadas do pré-sal. Essa riqueza incalculável seria transformada em realidade com a força financeira e domínio tecnológico extraordinário que a Petrobras tem na extração em águas profundas do gás e petróleo lá existente.
Era a auto-suficiência no petróleo e o futuro sorrindo para as próximas gerações. E, mais o País crescia em produzir energia limpa e se transformaria em importante fornecedor mundial de etanol e biodiesel. Lula estava certo. Tudo indicava isso. A tecnologia existia e a Petrobras é líder internacional nisso. A força financeira também. A economia que seria trazida aos diversos setores econômicos seria imensa e as perspectivas eram de benefícios crescentes com o tempo. A produção de etanol e biodiesel traria imensos benefícios.
Mas, as boas expectativas foram aos pouco se diluindo face aos desafios postos à empresa nas compras com elevado conteúdo nacional e participação no pré-sal. A diluição foi-se dando com a Petrobras pedindo que o governo reajustasse os preços dos combustíveis, que se afastavam cada vez mais dos níveis praticados internacionalmente.
O governo se fazia de surdo. Mantinha os preços artificialmente mais baixos para não correr riscos de ascensão da inflação.
A Petrobras em consequência foi perdendo sua imensa força financeira tendo que vender ativos e se endividar de forma crescente para poder tentar cumprir seu plano de negócios. O tempo foi perigosamente passando e o governo não se apercebeu mais uma vez do estrago que estava causando à empresa.
Com a entrada de Dilma Rousseff nova esperança nasceu. Ela trocou o presidente por uma funcionária de carreira da empresa, com excelente currículo e com pleno domínio de conhecimento necessário para alcançar os objetivos traçados. E a nova direção da Petrobras voltou de início a solicitar mais uma vez o reajuste dos combustíveis para poder viabilizar seu plano de negócios já aprovado pelo governo.
Mas o que se esperava de uma decisão pragmática e, finalmente, acertada não ocorreu, e os pequenos reajustes autorizados ficaram muito aquém do necessário. Assim continuou a se agravar a situação financeira da empresa, que foi ampliando a dependência de empréstimos do BNDES e externos em nível já elevado ameaçando a própria classificação de risco da empresa. A bola de neve crescia.
Ameaça e decisão - Agora com a depreciação cambial em curso, cuja magnitude é difícil de se prever, os estragos em cima da endividada empresa e o rombo causado pela importação crescente de gasolina vão exigir aumento muito maior do que as doses insuficientes autorizadas.
O governo agora está encurralado. Prometeu inflação abaixo da ocorrida em 2012. O reajuste necessário se tornou bem maior face às decisões anteriores e o próximo ano é eleitoral sendo difícil a concessão de novo reajuste. Armou sua própria armadilha!
Parece mais provável que o governo adote a política de alguns reajustes conforme o comportamento do câmbio, mas uma coisa é certa: se não perceber que deve dar o reajuste necessário, que é o que acaba com a defasagem na comparação internacional, e continuar mantendo a mão de ferro que estrangula a empresa para continuar usando-a como biombo da inflação, será a pá de cal no futuro da Petrobras e nos benefícios da riqueza potencial que o País ainda poderá usufruir.
As promessas de crescimento e do futuro do etanol do biodiesel já se foram. Outros países avançaram e ocuparam o espaço que deixamos de ocupar.
A descoberta e o uso rápido e crescente do gás de xisto nos Estados Unidos e outros países que partem com decisão nessa exploração e produção pode tornar inviável a extração do gás e petróleo do pré-sal face: a) aos atrasos no cronograma do pré-sal e na ampliação da capacidade de refino; b) à fragilização financeira da Petrobras e; c) ao custo elevado da extração devido à profundidade em que se encontra o petróleo e gás, diante do xisto que está a poucos metros de profundidade e em terra.
Talvez um lampejo de percepção da ligação da mobilidade urbana, que é urgente e estratégica, com a elevação do preço da gasolina salve de mais um fracasso. Vamos ver.
Vía:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22560
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