Brasil: Governadora do Maranhão veta lei contra escravidão...Stefano Wrobleski - Repórter Brasil
Roseana Sarney alega que que proposta vai contra Constituição do
Estado e recebe críticas. De autoria do deputado Othelino Neto (PPS), o
projeto foi inspirado na lei paulista nº 14.946/2013[/link], do deputado
Carlos Bezerra Jr. (PSDB), que foi regulamentada pelo governador
Geraldo Alckmin (PSDB) em maio. Por Stefano Wrobleski, da Repórter
Brasil
A governadora do Estado do Maranhão, Roseana Sarney (PMDB), vetou o projeto de lei nº 169/2013,
que havia sido aprovado na Assembleia Legislativa do Estado e previa a
cassação do registro de Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS) de empresas flagradas com trabalho escravo. O veto foi
publicado na edição de segunda-feira (5) do Diário Oficial da Assembleia
Legislativa e, na sua justificativa, a governadora alegou que o texto é
inconstitucional.
De autoria do deputado Othelino Neto (PPS), o projeto foi inspirado na lei paulista nº 14.946/2013,
de autoria do deputado Carlos Bezerra Jr. (PSDB), que foi regulamentada
pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB) em maio. Propostas semelhantes
já foram apresentadas nos estados de Mato Grosso do Sul, Tocantins e Rio
de Janeiro. Além da cassação do registro de ICMS, ambas as matérias
determinam que as empresas que se beneficiarem de mão de obra escrava
serão impedidas de exercer o mesmo ramo de atividade econômica ou abrir
nova empresa por dez anos.
O projeto de lei de Othelino Neto é o
segundo com o mesmo teor a ser proposto neste ano na Assembleia
Legislativa do Maranhão. Em maio, a Repórter Brasil noticiou que o deputado Bira do Pindaré (PT) havia apresentado o projeto de lei nº 078/2013,
que também foi inspirado na lei paulista. A matéria, no entanto, não
obteve parecer favorável da Comissão de Constituição, Justiça e
Cidadania (CCJ), onde teve como relator o deputado Tatá Milhomem (PSD),
que alegou “vício de iniciativa”. No seu entendimento, esse tipo de lei
não poderia partir do Poder Legislativo. Quando um projeto de lei recebe
parecer negativo da CCJ, o deputado que o propôs pode pedir que o
plenário vote por reverter o parecer, o que permite a votação do
projeto. Bira, no entanto, não fez isso: “Para reverter precisamos de 22
votos, que é a maioria dos deputados da Assembleia. Como faço parte da
minoria que faz oposição ao governo, nunca consegui reverter um parecer
contrário ao meu”, explicou.
Os dois projetos se diferenciam
majoritariamente no primeiro artigo, que define quais serão as empresas
punidas. Enquanto a proposta de Bira também pune as empresas que se
beneficiaram de trabalho escravo em qualquer etapa da cadeia produtiva,
sendo responsabilizadas também pelo flagrante de funcionários em
empresas terceirizadas, somente as empresas envolvidas diretamente com
escravidão são alvo do projeto de Othelino Neto.
Para Ítalo
Rodrigues, procurador do Ministério Público do Trabalho no Maranhão,
“responsabilizar a empresa por condições indignas em qualquer das etapas
de produção é bem mais condizente com as disposições internacionais
acerca do trabalho”. Ele ressalta que as empresas flagradas fazendo uso
de trabalho escravo colocam, em geral, o seu processo produtivo de uma
forma “pulverizada”, o que resulta na subcontratação de outras empresas,
processo também conhecido como “terceirização”. O deputado paulista
Carlos Bezerra Jr. considera que alteração do primeiro artigo “suprime a
possibilidade de penalizar a terceirização de fachada e tira a
possibilidade de enfrentar o problema na sua raiz”.
Questionado,
Othelino disse que a proposta de lei “atinge seu objetivo” e que “não
tem a pretensão de atacar todos os aspectos do trabalho escravo”. À
Repórter Brasil, ele afirmou que vai tentar convencer os demais
deputados a derrubar o veto de Roseana. Para isso, é necessário que ao
menos 22 deputados, a maioria simples do plenário, votem pela derrubada.
O projeto de Othelino foi apresentado semanas depois do de Bira. Com
tramitação em regime de urgência – para que, segundo o deputado, “fosse
aprovada antes do recesso do Legislativo” –, ele conseguiu as
assinaturas necessárias que garantiram a reapresentação de projeto
semelhante a outro rejeitado no mesmo ano. Tendo o deputado Rubens
Júnior (PCdoB) como relator na CCJ, a proposta obteve parecer favorável e
foi aprovada pelo plenário em 8 de julho.
Apesar das diferenças
entre as propostas, Bira do Pindaré acha “positivo o fato de que o que
era nossa intenção principal tenha prosperado na Assembleia”. Ele
considera “pouco provável” que o veto de Roseana Sarney seja derrubado,
mas apoia a iniciativa de Othelino Neto de tentar derrubá-lo.
Opção conservadora
A
justificativa de veto da governadora do Maranhão é, para o deputado
paulista Carlos Bezerra Jr., “uma opção conservadora, que vai na
contramão dos avanços da luta contra o trabalho escravo”. Já Othelino
acredita que Roseana Sarney “se demonstra insensível a um tema
importante como esse, que está acima de questões meramente partidárias”.
Para
vetar a proposta de Othelino, a governadora do Maranhão alegou que o
texto é incompatível com o artigo 43 da Constituição do Estado do
Maranhão, que garante ao Poder Executivo exclusividade para propor leis
de natureza tributária, categoria na qual, no seu entendimento, o
projeto de lei estaria incluído.
O próprio artigo 43 é alvo de
questionamento do deputado Hélio Soares (PP), que elaborou, em 2011, uma
Proposta de Emenda à Constituição (PEC) visando alterá-lo para derrubar
essa exclusividade do Executivo. A PEC 03/2011 já foi aprovada por
todas as comissões da Assembleia Legislativa do Estado e passou em
primeira votação, mas ainda é necessária uma segunda votação antes que
possa ser encaminhada à governadora para sanção.
O Supremo
Tribunal Federal (STF) também vem discutindo a questão. De acordo com o
advogado Eduardo Corrêa, presidente da Comissão de Defesa da República e
da Democracia da OAB no Maranhão, “existem reiteradas decisões no STF
sobre as quais os Poderes Legislativos estaduais possuem poder de
iniciativa para legislar sobre matéria tributária”. “Tecnicamente a
Assembleia Legislativa do Maranhão pode derrubar o veto. A questão é se
eles vão ter a disposição política para isso”, disse.
Trabalho escravo no Brasil
Um levantamento
de 2007 da Comissão Estadual de Erradicação do Trabalho Escravo
(Coetrae) do Maranhão mostrou que o Estado era então o principal
fornecedor de mão de obra escrava. Na lista suja,
o Maranhão aparece ao lado do Tocantins como a quinta unidade da
federação com maior número de empregadores flagrados com escravos. Dos
498 nomes, 34 são de flagrantes no Estado. Além disso, o Maranhão tem a
segundo pior colocação no Índice de Desenvolvimento Humano Municipal
(IDHM) de acordo com o Atlas do Desenvolvimento Humano no Brasil 2013.
Vía:
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=22480
No hay comentarios:
Publicar un comentario